O excelente livro, O Poder do Hábito, do premiado jornalista e repórter investigativo do New York Times, Charles Duhigg, explica como os hábitos funcionam, como são formados, como criar bons hábitos e como modificar hábitos ruins.
“Toda a nossa vida, na medida em que tem forma definida, não é nada além de uma massa de hábitos.”
William James
Durante a nossa vida inteira, cultivamos hábitos onde certas decisões se tornam comportamentos automáticos. O nosso cérebro está o tempo todo buscando maneiras de poupar esforços e, com isso, transformar rotinas em hábitos. Por exemplo: escovar os dentes ao acordar, se ensaboar durante o banho, dirigir todo dia até o trabalho, etc. Tudo isso são hábitos que fazemos quase sem pensar e sem esforço. Enquanto fazemos tais tarefas, geralmente estamos pensando em outras coisas. O que confirma que nosso cérebro já não precisa gastar energia com essas atividades.
A criação de hábitos (rotinas no automático) é muito importante, pois permite que nossas mentes desacelerem com mais frequência e libera o nosso cérebro para gastar energia com outras tarefas.
Mas nem todos os hábitos são saudáveis. O alcoolismo e o vício em jogos, por exemplo, também são hábitos que podem acabar com as nossas vidas.
Todo hábito é formado por 4 elementos: a deixa, a rotina, a recompensa e o anseio. A deixa é o gatilho que inicia a rotina (o hábito em si) e que, por fim, resultará numa recompensa. O anseio é o que desperta a vontade de iniciar o hábito. É a expectativa da recompensa. No exemplo de escovar os dentes, achamos facilmente a deixa, a sensação de boca suja, que “liga” a rotina, escovar os dentes, e que traz a recompensa, a sensação de dentes e boca limpos. O anseio é a ansiedade pela limpeza bucal. Num outro exemplo, do alcoolismo, a deixa pode ser um estresse, ai se recorre ao hábito de beber, para buscar uma sensação de relaxamento. O anseio é a vontade desse relaxamento e se livrar do estresse.
Mudar um hábito é muito difícil, mas não impossível. Ele pode ser modificado com muita força de vontade, perseverança e, principalmente, estando ciente dos elementos que o formam (deixa-rotina-recompensa e anseio). Você pode manter a mesma deixa e a mesma recompensa, e trocar a rotina, substituindo um hábito ruim por um mais saudável.
Recomendo fortemente a leitura do livro, para entender certos comportamentos e aprender como mudá-los.
Mas o que isso tem a ver com os meus investimentos?
A maioria das pessoas deixa para investir no final do mês o que, e se, sobrar. Ou seja, não é um hábito. É apenas um processo que pode ocorrer esporadicamente. Fica em segundo plano e nem sempre acontece.
Mas investir pode (e deve) se transformar num hábito.
Quando criamos esse hábito, o processo de investir todo mês se torna uma rotina automática e natural. Seus aportes deixarão de ser esporádicos e “se der”, para ser um processo contínuo e prazeroso.
Para criar, manter e ter consciência do hábito de investir, ele deve possuir todos os 4 elementos: a deixa, a rotina, a recompensa e o anseio.
A deixa pode ser o dia em que você recebe o seu rendimento. O recebimento do seu salário, o seu pró-labore, os seus vencimentos, seja la qual for a sua remuneração, deve ser o gatilho para o hábito de investir.
Ao receber essa remuneração, deve-se iniciar a rotina (o hábito em si): investir parte desse valor. Não adianta deixar para o final do mês. Para isso dar certo, tem que ser assim que recebe a remuneração. Então, assim que seu dinheiro “cair” na conta, parte dele já deve ser investido. Nem que seja 1% do seu salário. Nem que sejam 5 reais. O que importa é criar o hábito, depois você procura meios para aumentar esse valor.
A recompensa poderá ser acompanhar o seu patrimônio acumulado mês a mês, a consciência que você está traçando o caminho para a independência financeira e, até, a diminuição dos seus gastos. Quando você investe assim que recebe a remuneração, sobra menos para gastar. Esse elemento (recompensa) depende muito dos desejos e gostos de cada um. A recompensa também pode ser um jantar ou um presente no final do mês, com parte (pequena) do valor que você conseguiu investir. Descubra qual a sua recompensa, desde que ela não seja com gastos elevados em relação ao valor investido.
O anseio é a expectativa por essa recompensa. Esse elemento emocional é que vai despertar a sua vontade de praticar esse hábito.
Eu já faço isso há anos, mas só depois desse livro descobri que era um hábito e percebi os 4 elementos que o compõe.
“Os hábitos, ele notou, são o que nos permite “fazer uma coisa com dificuldade da primeira vez, mas logo fazê-la de modo cada vez mais fácil e, por fim, com prática suficiente, fazê-la de modo semimecânico, ou com praticamente nenhuma consciência”
Charles Duhigg. O Poder do Hábito.
Antes de sair gastando, mude o seus hábitos primeiro
Se você é consumista, gasta mais do que deve e, muitas vezes, com coisas supérfluas, isso também é um hábito. E como todo hábito ruim, ele deve ser modificado. A forma mais fácil (ou melhor, menos difícil) de se fazer isso é ter plena consciência dos elementos desse hábito, modificar a rotina e buscar uma recompensa.
A deixa pode ser o objeto de “desejo”, a rotina é a compra e a recompensa é ter a “coisa”. Quando essa mesma deixa surgir, crie o hábito de pensar 3, 4, 5 vezes antes de comprar. Vá para casa, reflita se precisa mesmo daquela compra e se aquilo lhe será realmente útil. Perguntas básicas que vão lhe ajudar: “por que quero isso? para que vou precisar? vou realmente usar? qual beneficio isso vai me trazer?”
Te garanto que esse hábito (refletir bastante antes de comprar) vai lhe salvar de diversas compras desnecessárias. A recompensa será mais valor para investir ou, até mesmo, a sensação de controle, de não ter sido seduzido pelo consumismo.
Um fator que ajuda bastante nessa transformação de hábitos ruins é procurar alguém, ou um grupo, com o mesmo “problema” e buscar essa mudança juntos. Por exemplo: se você tem uma amigo(a) que também não consegue poupar, porque é consumista, tentem mudar juntos. Um incentivando e cobrando o outro aumenta bastante o engajamento, a força de vontade e proporciona melhores resultados
Isso realmente funciona. Pode testar!
Portanto, mantenha seus ótimos hábitos, substitua os ruins e crie novos, que irão lhe ajudar no caminho para a tranquilidade financeira.
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